13 de dezembro de 2021
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Comunidade Resilia
Mulheres na programação: como incluir mais mulheres em um setor que as desencoraja?
Na década de 60, Grace Hopper, criadora da linguagem de programação Flow-Matic (base para o desenvolvimento do COBOL, até hoje usado no processamento de bancos de dados comerciais), deu uma entrevista para a revista Cosmopolitan. Nela, Hopper dizia que programar computadores era algo natural para as mulheres.
O relato empolgante sobre a promissora carreira de programadora e fotos do cotidiano profissional de uma moça sorridente, Ann Richardson, também fazia parte da matéria. Na época, a engenheira de sistemas da IBM e a criadora da Flow-Matic olhavam para o futuro das mulheres em tecnologia com muita garra.
Mas o que mudou desde então?
O estereótipo do nerd clássico que conhecemos até hoje (muitas vezes um homem introspectivo, usando óculos e roupas desajustadas) surgiu também na década de 60 e não por mera coincidência. As disciplinas de informática eram ensinadas em universidades e programas de certificação técnica, fazendo os salários na área começarem a subir. Somado a isso, os processos seletivos de empresas do setor passaram a valorizar um perfil do gênero masculino e com poucas habilidades sociais. Acreditava-se que poderiam performar melhor no cargo, com menos distrações. O resultado desse movimento é visível nos dias atuais: as mulheres ocupam apenas 25% dos cargos em tecnologia em todo o mundo. Em cargos de liderança, somos apenas 9%.
Visando atender um mercado cada vez mais diverso, a partir da década de 90, as empresas se viram obrigadas a se diversificar também o quadro de funcionários. Assim, começavam as iniciativas pela igualdade de gênero nas empresas. A área de tecnologia, porém, ainda ficou muito para trás se comparada a outros setores. Desencorajadas em profissões com um pensamento analítico e desestimuladas em lugares de maioria esmagadora masculina, a área de programação chega a ser um ambiente hostil.
Por esse motivo, o incentivo para mais mulheres na área de tecnologia poderia começar ainda na infância, quando meninas ganham bonecas e panelinhas, exclusivamente em afazeres domésticos e brincadeiras maternais, enquanto meninos ganham videogames e brinquedos de montar. Eles são estimulados a se aventurar e, elas, a cuidar da casa. De início, ainda na fase escolar, os meninos são mais incentivados em disciplinas como matemática e física, mesmo que inconscientemente. Afinal de contas, essas duas matérias têm muito a ver com os jogos e brinquedos que eles gostam, certo?
Mesmo as meninas que escapam desse filtro social enfrentam, mais tarde, outras barreiras na universidade e no mercado de trabalho. Nesses lugares, devido à presença majoritariamente masculina, as mulheres passam por preconceitos diversos — sendo a desqualificação intelectual um dos piores e mais frequentes. Para quem se pergunta o que é a desqualificação intelectual, eu explico: é quando a formação técnica e acadêmica de uma pessoa é diminuída baseada em algum preconceito ou viés inconsciente. O machismo é um deles.
Por mais que tenham formação técnica, ensino superior, especialização e experiência na área, a sensação presente é de que sabem menos do que outros homens na mesma posição. Assim, mulheres são questionadas e desmotivadas a ponto de constantemente precisarem se provar. Dessa forma, a síndrome da impostora acaba acompanhando suas jornadas pessoais e profissionais, em oposição às suas reais qualidades, feitos e conquistas para o setor.
Afinal, se as mulheres foram as verdadeiras responsáveis por grande parte das descobertas e inovações na área da tecnologia. Por que ainda são desencorajadas? Como mudar esse cenário e o que fazer para transformar o mercado de T.I em um ambiente mais convidativo para todas?
Muitas iniciativas vêm sendo tomadas para reverter esse quadro. Movimentos como “Contrate uma Gestante”, que estimula as empresas a contratar e promover gestantes; A ação “Indique uma Preta”, que promove vagas e indicações de mulheres negras para o mercado de trabalho; além da oferta de bolsas de estudo em cursos de capacitação para mulheres. A parceria Olist + Resilia é um exemplo de como a união de empresas de diversos setores com edtechs é uma forma poderosa de tornar o mercado de tecnologia mais diverso, oferecendo educação de qualidade e oportunidades reais de iniciarem carreiras no setor.
Mas é preciso ir além… É preciso incentivar cada vez mais meninas a desafiarem a ordem e ultrapassarem as barreiras sociais que as distancia da tecnologia. É necessário incentivar e apoiar cada vez mais nossas colegas de turma e de trabalho a continuarem em seus propósitos firmes e fortes. Ter um ambiente de trabalho mais seguro para uma mulher, é ter também um ambiente mais convidativo para todas as que virão. E que tenham mais e mais mulheres em tecnologia!
Que nós sejamos a inspiração para mulheres ao nosso redor porque, como disse Grace Hopper na matéria da Cosmopolitan, “this is the age of the Computer Girls” (essa é a era de mulheres na tecnologia!, em tradução livre)