19 de outubro de 2022

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De Frente Com

De Frente Com Alessandra Miliatti: como ter uma cultura diversa na empresa?

por Mariana Rebello

 

Nossa convidada de hoje, Alessandra Miliatti, é mãe da Maria Clara e gerente de aprendizagem digital na Raia Drogasil, se reconhece como catalizadora de melhorias nas organizações gerando conhecimento para os times e desenvolvendo novas competências entre os colaboradores. Formada em administração e com especialização em educação e gestão de projetos, Ale é apaixonada pelo tema de desenvolvimento de pessoas e diversidade, trabalhando nessa área há mais de 20 anos.

Como você acha que se cria uma cultura  forte, assertiva e  possível de implementar em toda a empresa ?

Primeiro a gente precisa entender que cultura é o jeito de ser e de fazer alguma coisa. Às vezes a gente não tangibiliza muito pras pessoas o que é cultura e fica parecendo algo que tá muito distante delas. Mas cultura nada mais é do que o nosso jeito de ser e de fazer. Então pra gente começar a ter uma cultura forte, precisamos olhar para qual é o jeito que as pessoas estão fazendo o que elas fazem no seu dia a dia. Como são as pessoas que estão dentro de uma empresa? Quais características que elas tem? E entender se essas características vão ajudar a empresa chegar aonde ela precisa chegar.

A gente precisa entender que existe a cultura instalada, ou seja, o jeito que as pessoas são hoje e existe a cultura desejada, ou seja, o jeito que a empresa gostaria que as pessoas fossem. E criar uma cultura não é algo que acontece do dia pra noite, é um processo longo que precisa de muita vigilância. Precisamos entender, de verdade, o momento da empresa e o momento das pessoas, para assim, trazermos profissionais que tenham a ver com a cultura que a empresa acredita.

Hoje em dia existem frases super famosas, como a “cultura devora a estratégia” e muitas empresas já estão seguindo essa premissa. Elas estão olhando para que as culturas construídas sejam de alto desempenho e tragam resultados de negócio. Porém, muitas vezes esquecemos do simples: a cultura, no fim das contas, está no jeito que as pessoas fazem as coisas e como elas se relacionam entre elas. Por isso os colaboradores precisam estar em primeiro plano.

Como criar uma cultura que abrace as diferenças, que seja humanizada e que cuide das pessoas?

Pra criar uma cultura inclusiva precisamos de uma palavrinha mágica que é intencionalidade, ou seja, precisamos querer isso. Não dá pra só estar escrito em algum lugar e não trabalharmos nossas ações de forma assertiva e criando essa intenção. Eu acho que é um pouco mais difícil criar uma cultura inclusiva de fato, porque não tem a ver só com a questão da humanização, mas com convencimento. Nem sempre as pessoas dentro das organizações estão seguras de que o melhor é trazer pessoas diversas e diferentes para o time. Então temos que ser um agente de mudança mostrando o quanto essa inclusão ajuda e como aporta mais valor pra organização. Costumo dizer que sou apaixonada por essa onda de diversidade e por esse tema, mas não pode ser só uma onda. A gente precisa provar que tudo isso gera resultado e não é só porque a gente quer ser legal, ter impacto social ou porque está todo mundo falando.

Diversidade de pensamento traz resultados de negócio. Por exemplo, hoje eu trabalho em áreas de tecnologia e com pessoas que vêm de um grupo minoritário ou que têm alguma questão socioeconômica. Essas pessoas sempre trazem um ponto de vista diferente das outras, porque elas vão falar sobre suas realidades e vão trazer todo arsenal que têm de vida. Isso contribui pro negócio, gera novos insights, ajuda a oxigenar o pensamento e a trazer mais inovação. Então pra mim não é só ser humanizado e ser legal, precisamos mostrar para as organizações o quanto que a diversidade gera lucro, oportunidades e faz com que as empresas se tornem mais sustentáveis a longo prazo.

É importante uma empresa praticar o employer branding?

Eu acho que às vezes a gente precisa ter menos branding e menos essa questão da marca contar uma história bonita para o mundo lá fora se a gente não está refletindo isso do lado de dentro. O employer branding de verdade é aquele que transborda de dentro da empresa pra fora. Não são ações pequenas feitas só pra valorizar a marca e dizer “olha quanto é legal trabalhar aqui”. Pra mim o employer branding de verdade é você conseguir das pessoas que estão lá dentro esse movimento orgânico. Não dá pra ser só dentro do Linkedin, pedindo para as pessoas gravarem vídeos, depoimentos e atualizarem a capa de perfil para a capa da empresa. Isso, na verdade, é só um pedaço. Por isso que tenho várias questões com esse tema, porque observo as marcas indo pro lado do branding para ser visto externamente e gerar buzz pra marca, enquanto não cuidam das pessoas internamente. Employer branding tem que vir mais de promotores internos do que promotores externos.

É óbvio que quando a gente trabalha com alguns times que são mais difíceis de conquistar, como os de tecnologia, ter uma marca empregadora forte é importante. Aqui dentro, temos alguns squads que cuidam de marca empregadora e sempre nos questionamos se a ação que iremos fazer é consistente e se traz impactos reais na vida do colaborador.

Quais ações que a Raia Drogasil faz dentro da empresa que estão atreladas ao employer branding?

Hoje temos um roadmap de transformação forte dentro da RD e isso por si só já é ótimo para uma marca empregadora, porque estamos no momento de construir, enquanto temos uma visão bem bacana de sair do varejo da farmácia tradicional e virar uma empresa de saúde integral. Ter um propósito forte, fazer o roadmap de trabalho, construir uma estratégia até onde você quer chegar e conseguir comunicar isso de forma clara para quem quer entrar na empresa é uma das nossas grandes fortalezas. Além disso, temos um olhar muito cuidadoso com as pessoas durantes todas as fases da vida e esse cuidado também passa por construir suas carreiras profissionais.

Hoje dentro da RD temos uma universidade corporativa super estruturada e uma área de aprendizagem digital que nasceu esse ano com foco em trazer um olhar mais inovador do aprender. Essa área de aprendizagem tem o objetivo de construir, junto com os colaboradores, ações para ressaltar a cultura do aprender de forma benéfica para todos. Estamos focados em entender que aprender é parte do trabalho e que temos um ambiente fértil para que a gente possa implantar aquilo que queremos.

Qual papel da inovação nas marcas e como você vê o mercado de trabalho do futuro?

Eu sou uma entusiasta de inovação e, particularmente, acho que não tem outro caminho. As empresas que não olharem para inovação em um curto espaço de tempo vão estar fora do jogo, inclusive tem algumas que já estão. Inovação não significa derrubar tudo e construir do zero. Às vezes são pequenas mudanças que vão ajudar a chegar mais longe. Não é só ser disruptivo e criar algo que não existe. Gerar melhorias já é uma grande inovação.

Tudo isso tem a ver com o profissional do futuro, que é aquele que enxerga tudo que faz e consegue fazer melhorias no seu dia a dia. Ele é curioso, pensa criticamente e analiticamente e está conectado com o futuro sempre se fazendo perguntas como: o que vai acontecer amanhã com a minha profissão? Como o que eu faço hoje pode ser afetado por uma nova tecnologia? Pra se manter empregado e feliz é preciso olhar para o futuro e para as tendências.

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