16 de dezembro de 2021

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ResiLadies

Dia 8 de março e mulheres em T.I

por Thamires Bessa

Como a história da mulher na tecnologia pode mudar sua perspectiva sobre essa data?

Oito de Março não é apenas uma data comemorativa, mas sim um momento de lembrar da luta pelos direitos das mulheres que se iniciou no século XX. Esta data é um marco para a história, para que possamos refletir sobre o nosso passado e tomar melhores decisões para o nosso futuro.

A diversidade de gênero é um tema fundamental para que a nossa sociedade cresça de forma mais justa e harmônica. Por isso, também deve ser refletido no campo profissional. Contudo, principalmente no mercado de T.I, ainda há pouca diversidade e muito preconceito. Através desse artigo, queremos desmistificar, relembrar e celebrar todas as mulheres, em especial às que atuaram e ainda atuam na área de tecnologia.

Primeiramente, como falar de programação sem mencionar Ada Lovelace? Quando se fala em tecnologia e computação pensamos logo em Alan Turing, Steve Jobs ou Bill Gates, mas a primeira pessoa programadora da história foi uma mulher, a Ada. Sua história e de tantas outras mulheres foram apagadas com o passar dos anos, mas devemos trazer luz para sua contribuiçao para a tecnologia.

Nascida em Londres no ano de 1815, Ada Lovelace cresceu sendo incentivada pela mãe para matemática e lógica. Anos depois, trabalhando com Charles Babbage na Máquina Analítica, percebeu que a máquina seria capaz de muito mais. Foi assim que ela escreveu o primeiro algoritmo para ser interpretado por máquinas na história.

Ada foi uma verdadeira visionária em tecnologia! Ela conseguiu enxergar que os algoritmos e as máquinas teriam capacidade para muito mais do que apenas cálculos. É graças às suas descobertas que hoje em dia podemos usar os computadores e laptops da forma que conhecemos.

Quase cem anos depois, em 1913, nascia Mary Kenneth Keller nos Estados Unidos. Aos 19 anos ingressou na ordem das Irmãs de Caridade da Abençoada Virgem Maria e fez seus votos na congregação em 1940. Mesmo se tornando freira, nunca abandonou sua paixão por matemática. Ainda em magistério católico, se formou bacharel em Ciências com ênfase em Matemática em 1943, seguido pelo o mestrado em Matemática e Física. No ano de 1965 ela conquista o doutorado em Ciência da Computação com a tese “Inferência indutiva dos modelos gerados pelo computador”. Sendo assim, a Irmã Mary se tornou a primeira mulher da história a se tornar doutora em Ciência da Computação.

Um ano após o nascimento da irmã Mary Kenneth Keller, nascia Hedwig Eva Maria Kiesler em Viena, popularmente conhecida por Hedy Lamarr. Aspirante a atriz, começou a trabalhar ainda na adolescência, atuando em diversos filmes na Europa e chegando à fama em 1933, com o filme Ectasy. Enquanto interpretava a Imperatriz da Bavária no teatro, Hedy conheceu Friedrich Mandl (Fritz), um empresário de armamentos com quem se casou logo depois. Ela começa a se sentir ameaçada por suas raízes judias e as alianças perigosas de Fritz, que fornecia equipamentos para Mussolini e Hitler durante as batalhas travadas pela pré guerra.

Quatro anos depois, Kiesler foge da Alemanha para os Estados Unidos, ganha uma nova identidade e estreia em Hollywood em 1938. Mas, com a chegada da Segunda Guerra Mundial, Hedy também se torna uma inventora. Após os aprendizados vivendo anos acompanhando Fritz em jantares e ouvindo conversas escondidas, em 1940 ela patenteia junto com George Antheil, seu amigo e também inventor, um sofisticado aparelho de interferência em rádio para despistar radares nazistas. Contudo, essa invenção ficou engavetada nas forças armadas americanas até começarem a utilizá-la nos anos 1962 após a expiração da patente. Em 1998, a ideia do aparelho de frequência criado por ela serviu de base para a criação da moderna tecnologia de comunicação, como as conexões Wi-Fi e o GPS.

Ainda na década de 40, o poderoso e inovador ENIAC é revelado ao público em 1946. O primeiro computador digital eletrônico era capaz de realizar cálculos complexos em questão de segundos. Engenheiros da época, achando que seria uma tarefa fácil, convocaram mulheres para montarem e programarem a máquina e as 6 jovens matemáticas Frances Bilas, Jean Jennings, Ruth Lichterman, Kathleen McNulty, Betty Snyder e Marlyn Wescoff foram escolhidas para dar vida ao ENIAC.

Por se tratar de um super computador em um programa ultra secreto do governo americano, a tarefa não foi nada fácil: o “monstro” computacional possuía 18.000 válvulas, diversas conexões e emaranhados de cabos e ainda ocupava um andar por completo da Universidade da Pensilvânia. As seis mulheres não receberam nada além de diagramas lógicos dos 40 painéis que faziam parte do computador. Não haviam livros, Google, muito menos documentação. Mas, mesmo assim, elas concluíram sua tarefa e revolucionaram a programação de computadores. Fizeram com que cálculos balísticos que demoravam 30 horas para serem processados, passassem a ser feitos em 15 segundos pelo ENIAC.

Seguindo para a década de 50, temos Grace Hopper. Doutora em Matemática e estadunidense, ela trabalhou como professora até 1943. Na época, o mundo estava em Guerra e o Japão havia ordenado um ataque a uma das bases marinhas dos Estados Unidos. Muita gente estava morrendo, e o país precisava de reforços. Grace resolveu entrar para a Marinha de seu país, mas não foi aceita por seu porte físico e idade.

Após algumas tentativas, ela consegue ingressar atráves de um programa especial voltado para mulheres. Em 1944 se tornou tenente e começa a atuar em um projeto na Universidade de Harvard, sobre computação. Grace esteve na equipe que produziu o Mark 1, uma calculadora automática de sequenciamento controlado, de 16 metros de comprimento por mais de 2 de altura.

Grace não quis deixar a computação de lado e continuou atuando no desenvolvimento de computadores, programando o Mark 2 e 3. Foi nessa época que surgiu o termo “bug”, criado para ilustrar quando insetos atrapalhavam o funcionamento das máquinas, já que naquela época os computadores utilizam cartões perfurados de papel, e um inseto no cartão atrapalhava a leitura e seu funcionamento. Ela continuou trabalhando no desenvolvimento de computadores eletrônicos, participando da construção do UNIVAC 1 e 2. Hopper chegou a conclusão que chaves e cabos não deveriam continuar fazendo parte das criações em que colaborava, e foi nesse momento que ela desenvolveu o primeiro compilador do mundo.

Os computadores não entendem idiomas, mas entendem pulsos elétricos. Seguindo essa lógica, Hopper criou o A-0, compilador que traduzia o código matemático para linguagem de máquina. Ela também participou da equipe que desenvolveu a FLOW-MATIC, primeira linguagem de programação que utilizava comandos de palavras comuns, escritas em inglês. Em 1959, participou de um evento que tinha por objetivo construir uma linguagem comercial para computadores. Grace atuou na criação e distribuição da COBOL, linguagem de programação mais famosa entre as décadas de 70 e 80, ainda utilizada fortemente em bancos tradicionais.

Avançando para a corrida espacial entre 1957 e 1975, temos as mulheres que fizeram história e proporcionaram a chegada do homem à Lua. Dorothy Vaughan, mulher negra formada em matemática, entrou para a NASA (antiga NACA) em 1943 e seis anos mais tarde foi promovida à Chefe da Unidade Leste do Centro Langley, única parte da NASA em que eram permitidas pessoas negras trabalhando. Os Estados Unidos não tiveram Apartheid como na África, mas a segregação foi marcante durante longas décadas e, por essa razão, negros raramente eram vistos nos mesmos ambientes ou áreas comuns que os brancos.

Dorothy era uma forte defensora de seu time na Unidade Oeste, composto totalmente por mulheres negras matemáticas. Quando as primeiras máquinas da IBM foram implantadas no local, ela colocou toda sua determinação e esforço em aprender FORTRAN, uma linguagem de programação bem comum da época. Vaughan não só aprendeu, como tornou-se especialista na linguagem, ensinando toda a sua equipe e impedindo que diversas mulheres fossem demitidas.

Já sob a supervisão de Dorothy, temos outras duas mulheres que mudaram o enredo:Mary Jackson e Katherine Johnson. Formada em Matemática e Ciências Físicas, Mary entra na NASA em 1951 e recebeu uma proposta de seu mentor, o engenheiro Kazimierz Czarnecki, para trabalhar no Túnel de Vento Supersônico. Para tanto, ela precisava fazer aulas de Matemática em seu tempo livre, e precisou de uma permissão especial para isso, pois as aulas eram ministradas numa escola segregada. Jackson conseguiu a permissão, ganhou a promoção e em 1958 tornou-se a primeira engenheira negra do instituto.

Katherine Johnson, também formada em Matemática, ingressou na NASA no verão de 1953. Ela foi designada por Dorothy a um projeto na Seção de Cargas de Manobras da Divisão de Pesquisa de Vôo,Voo, e o cargo temporário virou permanente. Ela analisou dados de testes de voo e trabalhou na investigação de um acidente aéreo causado por uma esteira de turbulência pelos quatro anos seguintes e, anos depois, realizou os cálculos para a Freedom 7, missão espacial tripulada dos EUA que ocorreu em 1961.

Johnson também foi a responsável pelos cálculos da missão Friendship 7, retratada no filme Estrelas Além do Tempo (2016), que conta a história dela, Mary e Dorothy. Os dados haviam sido calculados por computadores da IBM, mas John Glenn, astronauta que estava na missão orbital, chamou Katherine para refazer os cálculos com sua máquina de calcular mecânica de mesa. O vôoo foi bem sucedido e virou um marco na competição espacial entre Estados Unidos e União Soviética.

Outra pessoa que ajudou na corrida espacial foi Margaret Hamilton. Matemática de formação, Hamilton entrou em meados de 60 no MIT’s Lincoln Laboratory, onde participou do projeto SAGE — Semi-Automatic Ground Environment, primeiro sistema de defesa aéreo americano. O código utilizado para identificar aeronaves inimigas foi escrito por ela. Logo depois, ela trabalhou no laboratório instrumental do mesmo instituto, que oferecia tecnologia para a NASA.

Margaret, que cunhou o termo “engenharia de software”, esteve à frente da equipe que desenvolveu softwares voltados para os sistemas de orientação e controle de comando de vôoo, e também dos módulos lunares das missões Apollo. Ela se concentrou em encontrar falhas nos programas e em recuperar dados em máquinas com problemas. Esse fato foi o que permitiu que a condição crítica no computador de navegação da Apollo 11 não impedisse seu pouso, salvasse a aeronave e todos os integrantes dentro dela.

Seguindo para a era da internet, temos Radia Perlman. Filha de engenheiros que trabalhavam para o governo dos Estados Unidos, Radia cresceu cercada por Ciência e Matemática. Ela se tornou mestre em Matemática e doutora em Ciência da Computação pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology).

Conhecida como “mãe da internet”, em 1984 ela desenvolveu o Protocolo Spanning Tree (STP), fundamental para a operação de bridges de rede, que serve para conectar duas redes distintas. O protocolo permitiu que as bridges dentro de uma LAN (Rede de Área Local) conseguissem se comunicar. Radia implementou um algoritmo que possibilitou que uma bridge raiz seja encontrada, e dessa forma determina-se o menor caminho para a bridge raiz e desativa-se os caminhos redundantes. Ela também desenvolveu o protocolo TRILL, que corrige deficiências do STP.

60 anos após o primeiro ser humano ter pisado na Lua, temos um dos feitos mais esperados por toda a comunidade científica: a fotografia de um buraco negro foi obtida em 2019. E ela foi feita graças a Ph.D. em Engenharia Elétrica e Ciência da Computação, Katie Bouman. Nascida em 1989, Katie se formou em Engenharia Elétrica pela Universidade de Michigan e fez mestrado sobre o mesmo assunto no MIT. No ano de 2016, ela produziu um artigo para a revista britânica Astronomy Now, contando sobre um novo algoritmo capaz de construir imagens de buracos negros. Um ano depois, palestrou em um TED a respeito do tópico, onde explicou mais dos algoritmos que seriam utilizados no projeto.

Chamado de CHIRP, o software criado por Bouman foi capaz de sobrepor um total de 5 petabytes (5.000.000 gigabytes) de dados compilados por oito potentes radiotelescópios ao redor do planeta, que juntos formam um único telescópio virtual com tamanho igual a distância máxima entre eles. O volume de dados foi tão absurdo que precisou reunir fisicamente todos os HD’s externos utilizados.

Esse é só um pedaço de toda a contribução feminina para a história da tecnologia. Neste dia 08 de março, dia Internacional da Mulher, gostaríamos de impulsionar e celebrar a conquista das mulheres em suas áreas de atuação pois acreditamos que, somente com a valorização da aprendizagem acessível e indedependência financeira femina, essas jornadas serão realmente valorizadas.

Agora que você já conhece um panorama mais geral do cenário, que tal aproximar ainda mais esse contexto da nossa realidade? Você conhece alguma mulher que está se desafiando nessa área? Como podemos usar essas histórias para inspirar meninas e mulheres em tecnologia?

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